quinta-feira, 6 de maio de 2010

O APERTO DA COISA AMARELA

Tinha tudo pra ser um domingo legal.
Era de manhã.
Eu o Ivan e a Ivonete resolvemos dar uma volta pelos arredores do Estrela do Sul.
Afinal de contas, há muito tempo moramos aqui, e ainda não conhecemos as partes bonitas do setor.
As chácaras ficam na parte baixa do setor, lá para os lados do córrego e das matas.
Andamos, tiramos fotos, tudo na maior harmonia.
De repente me veio um sinal.
Era sinal de angústia, de arrepios.
O sinal veio em forma de rajadas.
Era a primeira rajada, sem tiroteios.
Olhei com olhar de receio para os lados.
Não vi nada que pudesse me ajudar.
-Será?
-Não, não pode ser aqui não.
A vida às vezes nos prega cada pressa, ou cada peça.
Dei mais um passo à frente.
Veio outra rajada, que mais parece uma metralhadora.
Ah, não, o que eu faço?
Ivan e Ivonete não entendiam nada do que estava acontecendo.
Mais que depressa larguei o Ivan e a Ivonete pra trás e ameaçou uma corrida.
Não deu. Era subida.
Parei, já me contorcendo em dores.
Estava longe de casa.
A cagada era iminente.
Não havia maneira impetrar mandato de adiamento do processo.
Era irreversível.
Só me restava tentar andar pra frente, pra chegar o mais perto possível de casa.
A primeira contração foi embora.
Não era gravidez.
Andei cinco metros, pisando bem devagar.
Veio a segunda contração.
Cheguei a emborcar, mais ainda estava em pé.
Fiquei parado imóvel, esperando o próximo intervalo.
Terceira contração.
Agachei, mas ainda me segurava heroicamente.
Tranquei tudo.
Os intervalos entre uma e outra estava diminuindo, isso era sinal que a merda estava chegando.
Corri dois metros, a coisa piorava.
Olhei para trás, os meninos estavam lá embaixo.
Eu havia conseguido andar a metade do caminho.
Ainda consegui me lembrar dos Vulcões quando as lavas estão para sair.
Não há força na natureza que consegue pará-la.
No meu caso contava com a ajuda do meu cérebro.
Falava baixinho.
-Não posso, não posso, se segura Magnun...
Veio a quarta contração.
Essa chegou acompanhada de arrepios.
Desta vez a urina também ameaçou sair.
Já se passava mais de vinte minutos, em um caminho que se fazia em dois.
Continuei firme.
Andei mais um pouco, e fui chegando até avistar minha casa.
Estava tão perto mais ao mesmo tempo tão distante de minha casinha.
A essa altura tanto faz que seja na sala, no corredor, na cozinha, que fosse no lugar mais perto.
-Consegui.
Gritei como se tivesse ganhado um troféu ou se tivesse acontecido um milagre muito grande.
Agradeci a Deus por ter chegado até ali, são salvo e limpo.
Só falta pegar a chave no bolso e entrar.
Inacreditável.
Havia deixado a chave com a Ivonete.
E agora, como faço.
Olhei em volta, e desanimei, porque o muro é muito alto.
Pensei em ir até a casa de minha mãe que mora perto.
Também desisti, porque não dava tempo.
Fiquei por alguns segundos imóvel, pensativo, mas firme.
Sou bastante teimoso, daqui não sai, daqui não saio.
O tempo passou e o espasmo só aumentava.
Tomei uma decisão, muito arriscada.
Pular o muro.
Se vazar, vaza pra dentro.
Se cair, cai de dentro.
Com muito esforço, subi no muro e olhei do lado de dentro, e como era alto.
Literalmente estava em cima do muro.
É agora ou nunca.
Vaaaaap...
Caí igual uma abóbora esborrachada.
Não preciso nem narrar o que se seguiu daí pra frente.
Até parecia que a garagem tinha se transformado num verdadeiro aterro sanitário.
Me senti um pinto no lixo de corpo inteiro.
MAGNUN.