domingo, 25 de março de 2012

JORNAL DAQUI E DE TODOS

SEJAM BENVINDOS


Todo dia, compro o meu jornalzinho Daqui, para fins exclusivamente para pesquisas.
Mais um jornal em especial me chamou atenção.
Foi o de segunda feira, dia bem concorrido de notícias.
Nesse dia, senti que as coisas não estavam bem.
Cheguei cedo na Farmácia onde trabalho e já com a edição do exemplar embaixo do braço.
Tenho o costume de só lê-lo após o almoço, quando vou embora de ônibus e tenho bastante tempo.
O primeiro cliente que entrou na Farmácia foi uma mulher e vendo o jornal em cima do balcão, já fez aquela pergunta tradicional de quase todo mundo.
-Você coleciona selos?
-Não.
-Você me dá ele?
-Dou sim, pode pegar.
O selo não vai me fazer falta, porque os prêmios oferecidos nunca me chamaram atenção.
Ainda dentro da Farmácia, uma outra Mulher viu o jornal no balcão.
-Posso ler os classificados?
-Claro.
Arranquei uma folha onde só tinha noticias de empregos e repassei à ela.
Afinal de contas, estou empregado e não me custa ajudar.
Ela sorriu satisfeita e saiu lendo porta afora.
Já indo embora, estava ainda no ponto de ônibus quando senti que alguém queria se aproximar.
-Sim?
-Moço, você tem a receita aí?
-Receita? Que receita?
Será que eu fiquei com a receita dela?
-Nesse jornalzinho aí tem a receita do bolo.
-Ah bom. Nesse caso pode ficar com a receita.
Folheei rapidamente o pequeno jornal e rasg...
-Toma, fica com este recorte. Se um dia a senhora se lembrar de mim, me traga um pedaço de bolo.
Ela sorriu e entrou no ônibus.
E Não demorou muito, uma outra voz soou alto e bom tom.
-Você já leu o jornal?
-Rapaz, cê acredita que não.
-Hoje o Gustavo Lima está no jornal.
-Ah ta?
-É, tem uma música dele que eu sou apaixonado por ela.
-É?
-Pois é, Cê empresta o jornal?
Pensei um pouquinho e... Não curto Gustavo Lima mesmo.
-Tiê tié tererê.
Não vai me fazer falta também.
Rasguei a parte da tal música e repassei ao Homem.
-Obrigado.
A essa altura, o pobre do coitado, do miserável e do picotado, já estava todo depenado.
Dentro do ônibus notei que duas senhoras debatiam a novela das oito.
-Foi a Tereza Cristina ou não foi?
-Não, acho que foi o Pererão.
As duas se viraram repentinamente pra mim.
-Moço dá pra nós ler o capitulo da novela de hoje?
Sem tempo pra responder me arrancaram o jornal da mão.
-Pega só o lado da novela, por favor, eu ainda não li o jornal.
-A Mulher sem dó nem piedade rasgou tudo e me devolveu só o que sobrou.
Acho melhor escondê-lo.
Lá em casa eu leio.
Chegando ao terminal me sentei no primeiro banco que encontrei.
-Ufa, até que enfim.
-Moço, moço...
-Senti um pequeno puxão pela camisa.
-Ocê gosta de piadas?
-O que?
Era só o que me faltava, depois de tudo ainda vou escutar piadas?
-Não, não gosto de piadas não.
-Que bom, então me dá as do jornal?
-Que?
Mais uma vez fiquei com pena do jornalzinho. Era como se o estivessem fatiando, pedacinho por pedacinho.
Mais ainda tenho o esporte. Esse eu não dou mesmo.
Tenho?
A manchete era em letras garrafais.
“Timão o grande campeão de 2011”.
Mas só deu tempo de ler isto.
Já tinha dois marmanjos em meu cangote.
-O Timão foi campeão?
-Acho que foi.
-Cê deixa nós darmos uma olhadinha?
Com aquele bafo fungando não tive alternativa.
-Pode ler.
Senti meu jornalzinho indo embora ficando com apenas a página de capa com as manchetes.
“Presos na biblioteca ficaram livros”.
“Asfalto de Aparecida é um verdadeiro estica em piche”.
“Pai briga com Filho por causa de um Filho da Mãe”.
“Buraco de Aparecida é mais embaixo”.
“Encontrada uma Jararaca na casa da minha sogra”.
“Carreta cheia de Bois tomba e não há sobreviventes fora do frigorífico”.
“Até que enfim Adriano volta à jogar em forma pelo Corinthians...em 2014”.
“O Santos não joga no dia de todos os Santos”.
“Prefeitura de ITU não cobra ITU”.

MAGNUN