quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013



PARTE XIII
BOIADA DE JOÃO PRETO

   São Miguel do Passa Quatro até bem pouco tempo atrás, era uma Cidade bem atrasada.
Ainda guardava ranços de Currutela.
Seu povo, muito humilde, não tinha costumes de sair pra outra localidade, a não ser numa viagem a passeio ou em casa de parentes.
Energia elétrica era coisa para um futuro ainda bem distante.
A noite só se via clarões de luz de vela, lampião ou lamparina.
Era corriqueiro passar uma boiada inteira dentro da Cidade, porque não havia outra estrada e a boiada precisava ser escoada para outras regiões.
Bastava um grito de um peão lá em cima na serra, e pronto, todo mundo entrava pra dentro de casa e trancava a porta.
As crianças eram recolhidas, e os menos desavisados saíam correndo rumo ao lajeado, local onde os Bois não passavam.
Uma boiada de médio porte, às vezes ficava uma hora dentro da Cidade e as Vacas se desembestavam rua abaixo.
Era uma correria só.
De vez em quando uma Vaca entrava em um quintal ou até mesmo dentro da casa e dava um trabalho danado pra tirá-la de lá.
Conta-se que certa vez aconteceu um fato que ficou gravado na memória dos mais antigos moradores de São Miguel.
João Preto era um Homem negro, humilde, antigo morador, que quase não saía de casa.
Gostava de vez em quando de ajudar a atravessar a boiada.
O que lhe rendia algum trocado.
Era um dos que chegava gritando, avisando todo mundo que a boiada estava chegando.
Em um domingo, de manhã, a população foi pega de surpresa com os gritos de João Preto, causando alvoroço e terror em todos que conheciam a travessia da Cidade.
-O que estaria acontecendo?
Não era costume passar boiada nos fins de semana e feriados, porque a Cidade ficava lotada de moradores de regiões vizinhas, que vinham fazer negócios com gados e também reverem seus parentes.
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Ôooaaaa. Boiiiiiiii....
Era uma gritaria só.
O tumulto foi geral.
Todos se recolheram.
As crianças entravam correndo, mães desesperadas a procura de filhos perdidos, as vendas e os botecos fechavam, enfim, não ficava uma alma viva na rua.
Lá em cima os gritos ficavam cada vez mais fortes.
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Ôooaaaa.
Silêncio total.
Os gritos de João Preto, já duravam mais de duas horas.
-Deve ser uma boiada muito grande.
Dizia um.
Mas ninguém tinha coragem de espiar pela fresta da porta, tamanho era o medo.
O tempo passou e os gritos só aumentavam, agora bem perto.
Quando se passaram três horas, um menino não agüentando mais ficar fechado, abriu a porta e saiu correndo para o meio da rua.
Sua surpresa foi grande.
Voltou pra sua casa ofegante, abriu todas as portas, e aos poucos foi saindo gente pra ver o que estava acontecendo.
No meio da praça, estava João Preto tocava apenas um Boi Malhado, magro e bem manco, mal dava conta de dar um passo.
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Iahhhúuuu...Iahúuuuuu...Vacaaaaa...
-Ôooaaaa.
João Preto tinha um trabalho danado tentando fazer o Boi estrupiado andar.
Ele ficou conhecido como o homem que um dia assustou a população de Passa Quatro.
MAGNUN


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013



EMANUEL, ESPÍRITO DE DEUS.

   Era tempo de Emanuel.
Ele tinha o olhar fixo, um olhar fixo no tempo ou na vida não se sabe.
Muito tempo se passou e a vida precisava mostrar ao mundo que era o tempo de Emanuel.
Nasceu sem esperanças como muitas crianças nascem por esse mundão afora.
Olhava sempre para o alto e às vezes até piscava, diziam que era para Deus.
Alguns momentos foram vistos sorrisos em suas expressões de dor e sofrimento.
Ele no seu íntimo de inocência se perguntava, porque ele? Como?
Não entendia.
Meu espírito tem esperança? Isso tudo passava pela mente sem culpa de Emanuel.
Era tempo de Emanuel,
Era tempo de Deus,
Era tempo de vida,
Era tempo da semente...
Seu olhar doce e ingênuo pedia e suplicava para viver.
Mas como viver sem esperanças, sem vida.
Será que é tempo de Emanuel?
Olhava fixo para cima até que uma voz veio do alto.
“Faça-se a luz e a luz se fez, faça-se a luz e Emanuel se fez.”
“Acha-se dois corações”.
E os Anjos procuraram e acharam o Elson e a Cotinha.
-Pronto, o espírito estava em boas mãos.
E assim encontraram-se espírito e corações.
O encontro se deu de maneira fulminante, era amor à primeira vista.
Os corações não conseguiram mais viver sem o espírito de Deus e o espírito de Deus não ficava mais longe dos corações.
As vidas dos corações se iluminaram e tudo se modificou.
Porque era tempo de Emanuel.
A luz irradiava e contaminava de amor por todos que passava por perto.
Porque era tempo de Emanuel.
Emanuel continuava a fixar seu olhar no infinito, mais agora era de gratidão.
Não se soube até hoje se Emanuel enxergava com os olhos da vida ou com os olhos de Deus.
Mas ele via, ele sentia e ele sorria.
Ele pressentia.
O amor puro e sincero não necessita de olhos, mas de sentimentos e ele sentia, ele agradecia.
Era tempo de Emanuel.
Nasceu de maneira frágil, sentimento sem culpa, vida vazia mais cheia de amor.
Tinha tudo pra não dar certo, pois veio de amor distorcido, de duas vidas sem sentimentos e desprovidos de razão, de duas criaturas que seriam pai e filha, mas que não sabiam discernir o que era certo e errado e deste relacionamento veio o amor puro e sincero de Emanuel.
Porque sentiu que era chegado o momento de Emanuel.
Seu corpo era vazio e suas mãos eram tremulas, suas pernas eram imóveis e seus pés não se mexiam, alias, seu corpo e matéria eram paralisados.
Mais seu sentimento não.
Era dependente, não sorria e não falava não se expressava, mais o brilho dos seus olhos dizia tudo.
O amor que os dois corações sentiam por ele era tamanha que Deus resolveu dar mais algum tempo de vida pra ele, pois via que o amor do espírito pelos dois corações era imenso e eterno e isso aumentou o tempo de Emanuel.
Emanuel foi criado em berço esplendido, numa Família de Deus, numa Família de paz e tudo fora feito para que sua vida se tornasse melhor, mais humana e mais digna.
E isso ele entendia bem.
O tempo passou e Deus viu que era tempo de buscar Emanuel.
A vida agora fazia mais sentido para os dois corações.
Élson e Cotinha certamente viram nessa passagem de suas vidas os milagres de Deus e agradecem por terem sidos escolhidos por ele e por lhes presentearem com essa dádiva Divina, porque deu-se o tempo de Emanuel.
MAGNUN