terça-feira, 12 de março de 2013



JOAQUIM DA PINGA
  

   -Que será esse hiic, monte de gente, hiiic, na porta de minha casa?
Será que eu hiic, morri e num tô sabendo?
-Moço, moço, morreu alguém aí, por favor pode me falar?
-Pelo amor de Deus, gente essa é a minha casa.
-Alguém pode me dizer?
-Estou delirando?
-Mais eu quase não bebi...
-Alguém morreu aí, hiic? 
-Ei, gente dá licença, essa é minha casa, por favor.
Joaquim da pinga como era conhecido, tinha por hábito levantar bem cedinho e pegar as primeiras doses dos três primeiros botecos que tinha perto de sua casa.
Mais hoje está diferente.
Alguma coisa estva acontecendo na sua casa, porque não faz mais que uma meia dúzia de minutos que ele havia saído de casa pra tomar apenas um aperitivo.
Não estava muito bêbado, pois só bebeu o suficiente pra enxergar de longe que tinha uma grande aglomeração no interior de seus aposentos.
E não entendia porque as pessoas o ignoravam.
Foi abrindo filas olhando pra um e pra outro e notava que ninguém saia do lugar.
Ficou estarrecido quando se deparou com um corpo que estava desfalecido em um caixão.
-Pelo amor de Deus, hiiiic, quem morreu?
Ninguém falava nada.
Lá do fundo veio uma voz forte e respondeu:
-Infelizmente nós perdemos um grande amigo nosso, o Joaquim, que veio à falecer por insuficiência renal e hepática, devido ao longo tempo que ficou alcoólatra.
Joaquim estremeceu.
-Será que eu morri?
-Será que é eu?
Não, não é possível, como isso foi acontecer comigo?
E Joaquim da pinga chorou copiosamente.
As pessoas vinham beirando o caixão, dava o último adeus e o último aceno à Joaquim.
Jamais pensou que iria presenciar o seu próprio funeral.
Como tem gente.
Joaquim contou mais de cem.
Nunca imaginava que tinha tantos amigos assim na vida.
Joaquim da pinga agradecia.
Mais ninguém respondia.
Nisso aproximou-se duas Mulheres lindas e se debruçaram sobre o caixão.
Elas choravam muito.
-Como Deus pôde levar nosso Homem embora.
-Ele era tão carinhoso com a gente.
Joaquim à tudo assistia com os olhos arregalados.
Uma delas virou-se para Joaquim e se debruçou em seus ombros e chorou.
-Eu o amava.
-Não sei viver sem ele.
Joaquim na verdade, nunca tinha visto essas Mulheres e muito menos as outras pessoas que estavam em sua casa o velando.
-Gente, gente porque eu morri pelo amor de Deus? Será que meu espírito saiu do corpo antes da hora? Será que ele ficou bêbado e se mandou?
Os Homens que seguravam o caixão no caminho de sua última morada não tiravam os olhos de Joaquim da pinga.
O caixão foi abaixado debaixo de muitas palmas e lágrimas.
-Não sabia que eu, hiic, era tão querido...
E Joaquim vendo pela última vez seu corpo já moribundo, não agüentou e desmaiou.
-Joaquim seu traste, levanta daí.
-Joaquim, ohhhh Joaquim.
E lascou um balde de água fria na cabeça de Joaquim da Pinga, que não esperou um segundo para abrir os olhos.
-Eu morri Tereza, me perdoa.
-Que morreu que nada seu vagabundo, se você continuar bebendo desse jeito, aí sim você morre mesmo.
-Levanta, cê num morreu não, infelizmente.
-Mais eu vi meu enterro.
Tereza com um puxão só pôs de pé o Homem que imaginava que tinha morrido.
-Isso é um indício de que a pinga tá te fazendo mal.
-Vamos embora.
E foram para sua casa.
Passaram por uma rua anterior à sua e viu as mesmas pessoas que estavam no velório.
Joaquim não entendeu, mais resolveu tirar a prova porque já estava encabulado.
As pessoas agora o cumprimentavam e ele acenava pra todos com um ar de curiosidade.
-Quem morreu aqui ontem?
-Ninguém.
-E o tal do Joaquim pinguço?
-Não existe ninguém com esse nome aqui.
Joaquim saiu mais encucado ainda e seguiu pra sua casa.
Pra Joaquim, foi um aviso que seu final estava próximo.
Pra Tereza, foi apenas uma alucinação muito comum em um bêbado.
A verdade foi que se passaram uma semana e Joaquim da Pinga caiu morto no chão, deixando para trás sua Mulher Tereza, que tanto o levantou das calçadas frias.
O detalhe interessante é que somente ela, a sua esposa Tereza, esteve presente no seu enterro.
MAGNUN