quarta-feira, 7 de novembro de 2012



A VOLTA QUE O CEGO DÁ


   O Ônibus saiu em sentido Terminal Cruzeiro, Estrela do Sul.
O ceguinho entrou na maior prosa e se acomodou em um banco perto da porta do meio do veículo.
O ceguinho se levantou e tateando, se posicionou perto da catraca, de modo que ficou de frente com todo mundo. Nesse dia ele achou estranho, porque não havia ninguém em pé.
-Bom dia a todos. Esse Ônibus vai até o Conjunto Estrela do Sul, pessoal.
-Quando vocês quiserem descer, me avisa que eu falo para o Motorista.
-Olha pessoal, eu quero comunicar a todos os passageiros, que eu sou cego e preciso de ajuda.
Eu num importo da quantidade em dinheiro não.
Pode ser até de dez centavos, que eu aceito de bom grado.
-Todos aqui já me conhecem. Ser cego não é fácil não. Cês acredita que eu num consigo enxergar nada.
Está na época do Natal e preciso de ajuda.
Após seu discurso fervoroso ele começou então a sua coleta, coisa que fazia o dia inteiro.
Era sua rotina.
Ele foi até o fundo do veículo vagarosamente e sempre com a mão estendida. Mais desta vez não veio nada de moedas.
Fez o caminho inverso e nada.
Ninguém se manifestava. Resolveu dar mais uma rodada de pedidos.
-Gente por favor, ajudem o ceguinho.
Achou aquilo tudo estranho porque nunca tinha acontecido isso.
Resolveu tirar satisfação com o motorista.
-Motorista, tem gente aqui dentro desse Ônibus?
Nada de respostas.
-Motorista, ooooou Motorista?
Bateu na catraca.
-Tem gente aqui? Grita o cego já começando a desesperar.
-Gente por favor, se ocês num quer dá dinheiro num dá, mas pelo menos grita aí gente.
E nada. Silêncio total.
Sentiu que o veículo parou.
-Chegamos no Estrela?
Graças à Deus.
Mas a porta não abria.
-Tem gente aqui? Abre essas portas. Motorista, oooooou Motorista.
Cançado o cego sentou na primeira cadeira que não viu.
E cochilou.
Acordou com alguem gritando aos berros.
-Ôoooo cego, desce logo. Que que cê ta fazendo dentro desse Ônibus? Desce.
Aqui num é lugar de dormir não.
A garagem já fechou à muito tempo, desce.
-Garagem? Que garagem?
-Tem três horas que esse Ônibus ta aqui na garagem. Nós temos que lavá-lo.
O ceguinho desceu apressadamente e sem entender nada saiu tateando no escuro. Não se sabe onde ele dormiu, mais no outro dia, lá estava ele dentro do Ônibus tentando arrancar alguns trocados.
O Motorista há muito tempo estava querendo dar uma lição naquele cego, que uma vez lhe maltratou num bate boca violento.
MAGNUN

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