A VOLTA QUE O CEGO DÁ
O Ônibus saiu em sentido Terminal Cruzeiro,
Estrela do Sul.
O ceguinho entrou na
maior prosa e se acomodou em um banco perto da porta do meio do veículo.
O ceguinho se levantou
e tateando, se posicionou perto da catraca, de modo que ficou de frente com
todo mundo. Nesse dia ele achou estranho, porque não havia ninguém em pé.
-Bom dia a todos. Esse
Ônibus vai até o Conjunto Estrela do Sul, pessoal.
-Quando vocês quiserem
descer, me avisa que eu falo para o Motorista.
-Olha pessoal, eu
quero comunicar a todos os passageiros, que eu sou cego e preciso de ajuda.
Eu num importo da
quantidade em dinheiro não.
Pode ser até de dez
centavos, que eu aceito de bom grado.
-Todos aqui já me
conhecem. Ser cego não é fácil não. Cês acredita que eu num consigo enxergar
nada.
Está na época do Natal
e preciso de ajuda.
Após seu discurso
fervoroso ele começou então a sua coleta, coisa que fazia o dia inteiro.
Era sua rotina.
Ele foi até o fundo do
veículo vagarosamente e sempre com a mão estendida. Mais desta vez não veio
nada de moedas.
Fez o caminho inverso
e nada.
Ninguém se
manifestava. Resolveu dar mais uma rodada de pedidos.
-Gente por favor,
ajudem o ceguinho.
Achou aquilo tudo
estranho porque nunca tinha acontecido isso.
Resolveu tirar
satisfação com o motorista.
-Motorista, tem gente
aqui dentro desse Ônibus?
Nada de respostas.
-Motorista, ooooou
Motorista?
Bateu na catraca.
-Tem gente aqui? Grita
o cego já começando a desesperar.
-Gente por favor, se
ocês num quer dá dinheiro num dá, mas pelo menos grita aí gente.
E nada. Silêncio
total.
Sentiu que o veículo
parou.
-Chegamos no Estrela?
Graças à Deus.
Mas a porta não abria.
-Tem gente aqui? Abre
essas portas. Motorista, oooooou Motorista.
Cançado o cego sentou
na primeira cadeira que não viu.
E cochilou.
Acordou com alguem
gritando aos berros.
-Ôoooo cego, desce
logo. Que que cê ta fazendo dentro desse Ônibus? Desce.
Aqui num é lugar de
dormir não.
A garagem já fechou à
muito tempo, desce.
-Garagem? Que garagem?
-Tem três horas que
esse Ônibus ta aqui na garagem. Nós temos que lavá-lo.
O ceguinho desceu
apressadamente e sem entender nada saiu tateando no escuro. Não se sabe onde
ele dormiu, mais no outro dia, lá estava ele dentro do Ônibus tentando arrancar
alguns trocados.
O Motorista há muito
tempo estava querendo dar uma lição naquele cego, que uma vez lhe maltratou num
bate boca violento.
MAGNUN