Desde pequeno Marc tinha um sonho, o de ser
Repórter.
Vivia correndo
notícias à procura de alguma coisa que o pudesse levar pelo menos perto de seu
irmão mais velho, o Foca, a quem mantinha um sentimento de amor misturado com
inveja.
Foca já era um Repórter famoso, muito respeitado.
Tinha esse nome porque
não tinha medo e entrava em qualquer lugar.
Era um Repórter fuçador.
Foca, como era
Jornalista famoso e conhecia como ninguém os caminhos das falcatruas
politiqueiras, recebeu convite do então Governador da Província de um pequeno
estado Americano e sem pensar duas vezes, aceitou assessorá-lo.
As viagens eram
constantes para todos os cantos da região.
Foca e Marc ainda
viviam com sua mãe, Anne, como era conhecida.
Ela gostava de
politicar com seu Filho e com isso viajava sempre com ele.
E com isso sua vida de
Repórter foi ficando pra segundo plano.
Mas sempre que podia,
dava apoio pra seu irmão, incentivando-o, pois ele achava que Marc ainda seria
um grande Repórter pela sua persistência.
Foca levava consigo
seu antigo celular, que nunca o deixava pra nada.
Seu toque era o canto
do Sabiá, a quem gostava de ouvir muito.
Só que o tempo foi
passando e Marc não tinha encontrado aqueeeeele furo...
Aquele furo de
reportagem, aquele acontecimento que o levaria ao topo das manchetes.
Queria ser melhor que seu irmão.
Vivia só para isso.
Tinha que acontecer.
Isso se tornou obsessão pra ele.
Marc não descansava e não dormia.
Ao menor sinal de
qualquer coisa, ele pegava seu microfone e a câmara e saía correndo.
Eles se tornaram
testemunhas importantes na sua luta constante em busca do algo mais.
Mas o tempo passava e nada.
A paciência foi se esgotando e tomou lugar, o desespero.
E com isto veio a revolta.
Ficava se perguntando.
-Porque seu irmão era
famoso e ele não?
Isso ficava martelando em sua cabeça.
As coisas iam acontecendo
bem para o seu irmão e com ele nada.
Rancoroso, Marc se isolou da Família.
Brigou com a Mãe e com
Foca, saindo de casa sem avisar e disse que nunca mais voltaria.
Foi morar com seus poucos amigos que ainda restavam.
Sem querer notícias de
sua Família, prometeu que só os procuraria quando ficasse famoso, pois eles iriam
ver que ele também tinha valor.
E Marc continuou seu destino.
Era uma pequena
aventura aqui, outra ali, mas nada que pudesse chamar atenção do Mundo.
Ainda estava esperando aquele acontecimento.
Tinha certeza que um
dia iria acontecer alguma coisa e ele estaria por perto.
Era o pensamento que o movia sempre pra frente.
Dias se passaram. Meses se passaram.
Um dia, um de seus
amigos o convidou pra passar uma temporada na pequena fazenda que seu pai
mantinha no interior.
Marc resolveu ir, pois nada acontecia mesmo.
Não fazia mal algum
ficar uns dias descansando no mato, porque nunca havia tirado férias.
E viajaram todos no fim de semana.
Era um lugar isolado, mas
muito bonito e aconchegante, com muita vida Animal, mas de pouca visibilidade.
Chovia constantemente.
Era raro o dia que não
chovia e o Sol quase não aparecia.
Fazia muito frio, mas
era um lugar muito bonito, muito tranqüilo, era perfeito pra quem queria
descansar da vida estressante da Cidade.
A noite todos dormiam.
Não tinha nada que se fazer, pois não havia luz.
Marc estava cansado e por isso foi dormir logo cedo.
Silencio total.
Só se ouvia o barulho
dos galhos das árvores batendo uns nos outros.
Marc foi acordado de
madrugada com um gigantesco estrondo, seguido de uma grande bola de fogo, que
foi caindo mansamente em direção ao pasto da roçada que ficava mais adiante.
Estava se desenhando o
maior acontecimento que a pequena região tinha presenciado.
Marc mais que depressa
se levantou e saiu correndo para o quintal, seguido por todos.
Ainda deu tempo de
pegar seu material de que não se separava nunca.
A bola de fogo era enorme e descia lentamente.
Atrás dela outras
pequenas bolas a acompanhava, como se estivessem seguindo os passos da Mãe.
Marc gravava tudo.
Fotos foram se amontoando uma atrás da outra.
Não se podia perder nada.
Era a grande chance de sua vida.
O mundo todo iria ver
seu trabalho.
Sua Mãe e seu irmão
ainda vão se ajoelhar em seus pés e pedir desculpas pelo não reconhecimento
durante toda a sua vida.
-Graças a Deus.
Na hora certa e no lugar certo.
-Até que enfim ele
iria ser valorizado e reconhecido.
Iria se tornar o único repórter no mundo que tinha fotos e gravações ao
vivo.
Deve ser um gigantesco
meteoro ou asteróide sei lá e estava eufórico.
Isso tudo não saía de
sua cabeça.
De repente a região
toda clareou e ouve-se um estrondo que estremeceu a terra e muitas árvores
caíram com o impacto.
Por um momento sentiram tonturas e alguns até caíram.
Marc se levantou e
continuou sua fuga em direção ao fogo.
Chorava e gritava ao mesmo tempo.
Estava emocionado.
Era a glória, era a sua glória.
Com o impacto, a terra
abriu um buraco e o fogo se alastrou por todo lado.
Mas Marc não estava satisfeito, queria chegar bem perto.
Parou por um momento, porque a fumaça era intensa.
Não se respirava direito.
Mas Marc não importava se a fumaça era tóxica ou não.
Tinha que gravar tudo.
Quando não havia mais
nada pra se queimar, o fogo foi virando fumaça e aos poucos foi se apagando.
Aproximou-se mais
ainda e radiante de alegria, resolveu dar a notícia para seu irmão Foca.
Pegou seu celular e na agenda ainda guardava o número de telefone de seu
irmão. Mais que rapidamente fez a primeira ligação.
Recordava do canto do Sabiá que seu irmão tanto gostava.
Ele tinha que ser o primeiro a ser avisado do ocorrido.
Ah se tinha.
Iria mostrar pra ele que também era bom.
Tinha de acordá-lo pra dar esse tremendo furo.
O silencio imperou na mata por alguns segundos.
Dava para escutar a
respiração dos seus amigos que estavam um pouco atrás, porque ainda estavam com
medo de aproximar.
De repente se ouviu
uma voz bem alta e lamentosa de um canto que ele nunca havia esquecido.
ERA O CANTO DO MAESTRO DA NATUREZA, MAJESTADE O SABIÁ.
Todos se olharam.
De onde vem o canto?
Marc era o único que conhecia aquele canto, aquela voz.
À poucos metros à sua
frente, o celular de seu irmão tocava insistentemente.
Marc não acreditava no que estava vendo.
Foi chegando devagar e
em pouco tempo, percebeu o que tinha acontecido.
Havia pedaços de avião e lataria por todo lado.
Tropeçou na placa.
PT 0243 UTAH MARC E FOCA
Era o prefixo do avião
que Foca e sua Mãe haviam comprado e faziam campanha política junto com o
Governador da Província.
Marc leu e desmaiou.
Seus colegas o ampararam
e o levaram de volta para a fazenda.
Era preciso se refazer do susto.
Mas Marc entrou em desespero.
Pegou tudo que tinha nas
mãos, câmeras e gravadores e saiu correndo em direção a Lagoa.
Quebrou tudo em pedaços e jogou no fundo da Lagoa.
Ali chegaria ao fim, a
vida prematura de um Repórter, que esperava dar um furo na vida e esta lhe
devolveu com um furo no coração, minando por completo toda a sua luta que tinha
enfrentado até então.
Havia perdido de uma só vez, a Mãe e seu irmão que sempre teve inveja e
admiração, sentimentos que se misturavam e que o transformou em um Homem duro e
rancoroso pelo resto da vida.
Nada mais valia a pena.
MAGNUN.
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