JOAQUIM DA PINGA
-Que será esse hiic, monte de gente, hiiic,
na porta de minha casa?
Será que eu hiic, morri e num tô sabendo?
-Moço, moço, morreu
alguém aí, por favor pode me falar?
-Pelo amor de Deus,
gente essa é a minha casa.
-Alguém pode me dizer?
-Estou delirando?
-Mais eu quase não
bebi...
-Alguém morreu aí,
hiic?
-Ei, gente dá licença,
essa é minha casa, por favor.
Joaquim da pinga como
era conhecido, tinha por hábito levantar bem cedinho e pegar as primeiras doses
dos três primeiros botecos que tinha perto de sua casa.
Mais hoje está diferente.
Alguma coisa estva
acontecendo na sua casa, porque não faz mais que uma meia dúzia de minutos que
ele havia saído de casa pra tomar apenas um aperitivo.
Não estava muito
bêbado, pois só bebeu o suficiente pra enxergar de longe que tinha uma grande
aglomeração no interior de seus aposentos.
E não entendia porque as pessoas o ignoravam.
Foi abrindo filas
olhando pra um e pra outro e notava que ninguém saia do lugar.
Ficou estarrecido
quando se deparou com um corpo que estava desfalecido em um caixão.
-Pelo amor de Deus,
hiiiic, quem morreu?
Ninguém falava nada.
Lá do fundo veio uma voz forte e respondeu:
-Infelizmente nós
perdemos um grande amigo nosso, o Joaquim, que veio à falecer por insuficiência
renal e hepática, devido ao longo tempo que ficou alcoólatra.
Joaquim estremeceu.
-Será que eu morri?
-Será que é eu?
Não, não é possível, como isso foi acontecer comigo?
E Joaquim da pinga chorou copiosamente.
As pessoas vinham
beirando o caixão, dava o último adeus e o último aceno à Joaquim.
Jamais pensou que iria presenciar o seu próprio funeral.
Como tem gente.
Joaquim contou mais de cem.
Nunca imaginava que tinha tantos amigos assim na vida.
Joaquim da pinga agradecia.
Mais ninguém respondia.
Nisso aproximou-se
duas Mulheres lindas e se debruçaram sobre o caixão.
Elas choravam muito.
-Como Deus pôde levar
nosso Homem embora.
-Ele era tão carinhoso
com a gente.
Joaquim à tudo assistia com os olhos arregalados.
Uma delas virou-se
para Joaquim e se debruçou em seus ombros e chorou.
-Eu o amava.
-Não sei viver sem
ele.
Joaquim na verdade,
nunca tinha visto essas Mulheres e muito menos as outras pessoas que estavam em
sua casa o velando.
-Gente, gente porque
eu morri pelo amor de Deus? Será que meu espírito saiu do corpo antes da hora? Será
que ele ficou bêbado e se mandou?
Os Homens que
seguravam o caixão no caminho de sua última morada não tiravam os olhos de
Joaquim da pinga.
O caixão foi abaixado
debaixo de muitas palmas e lágrimas.
-Não sabia que eu,
hiic, era tão querido...
E Joaquim vendo pela
última vez seu corpo já moribundo, não agüentou e desmaiou.
-Joaquim seu traste,
levanta daí.
-Joaquim, ohhhh
Joaquim.
E lascou um balde de
água fria na cabeça de Joaquim da Pinga, que não esperou um segundo para abrir
os olhos.
-Eu morri Tereza, me
perdoa.
-Que morreu que nada
seu vagabundo, se você continuar bebendo desse jeito, aí sim você morre mesmo.
-Levanta, cê num
morreu não, infelizmente.
-Mais eu vi meu
enterro.
Tereza com um puxão só
pôs de pé o Homem que imaginava que tinha morrido.
-Isso é um indício de
que a pinga tá te fazendo mal.
-Vamos embora.
E foram para sua casa.
Passaram por uma rua
anterior à sua e viu as mesmas pessoas que estavam no velório.
Joaquim não entendeu,
mais resolveu tirar a prova porque já estava encabulado.
As pessoas agora o
cumprimentavam e ele acenava pra todos com um ar de curiosidade.
-Quem morreu aqui ontem?
-Ninguém.
-E o tal do Joaquim
pinguço?
-Não existe ninguém
com esse nome aqui.
Joaquim saiu mais
encucado ainda e seguiu pra sua casa.
Pra Joaquim, foi um aviso que seu final estava próximo.
Pra Tereza, foi apenas
uma alucinação muito comum em um bêbado.
A verdade foi que se
passaram uma semana e Joaquim da Pinga caiu morto no chão, deixando para trás
sua Mulher Tereza, que tanto o levantou das calçadas frias.
O detalhe interessante
é que somente ela, a sua esposa Tereza, esteve presente no seu enterro.
MAGNUN
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